Educação financeira infantil: investimento muito além da mesada
Muitas vezes, aqui no consultório, os pais me perguntam quando é o momento de introduzir a recompensa financeira, a famosa mesada, na rotina da família e quais os limites ou regras mais importantes para o ensino financeiro da criança.
Acontece que a educação financeira infantil vai muito além da mesada, porque contribui e incentiva a criança com aspectos como organização, planejamento, disciplina e responsabilidade. E tudo isso terá reflexo na vida adulta: a relação que se deve ter com o dinheiro. Ou, o que é preço e o que é valor.
Entre os 6 e 7 anos, meninos e meninas passam a perceber o mundo ao seu redor com muito mais clareza e, consequentemente, querem mais desse mundo. É a fase "mamãe, quero isso, papai, quero aquilo.". Mas, em vez de tornar esse processo uma dor na cabeça, os pais podem transformar o consumismo da criança em aprendizado.
A ideia, segundo Álvaro Modernell, especialista em economia financeira infantil, é fazer com que a criança entenda que, ao receber dinheiro, ela também recebe o poder de escolha, e isso sempre vai acarretar em perder alguma coisa para conquistar algo mais valoroso no final.
Como pediatra, não recomendo atrelar o ganho financeiro com as tarefas domésticas ou escolares do pequeno, porque uma coisa é obrigação, outra é o aprendizado monetário. A mesada não precisa vir de uma tarefa ou de um comportamento, mas sim de um acordo entre pais e filhos.
Como orienta Modernell, a mesada pode ser calculada por R$ 1,00 para cada ano da criança. Assim, aos 6 anos, a criança receberá R$ 6,00 toda semana e, aos poucos, entrando na adolescência, por exemplo, o valor pode ser triplicado, tornando-se mensal. É claro que todo valor deve ser previamente acordado entre os pais, levando em consideração as condições da família.
Também é de suma importância manter o diálogo com o pequeno desde cedo para explicar a importância de anotar o valor ganho, os gastos e quanto foi economizado no mês. Assim, a criança perceberá o quanto precisará economizar, e por quanto tempo, para realizar um objetivo maior.
É quanto a esse "objetivo maior" que os pais devem debruçar-se em esforços para que as crianças entendam os benefícios de poupar, fazer escolhas e se planejar. Muitas vezes, esse objetivo final é muito mais caro do que elas podem esperar poupando. Neste momento, os pais podem se oferecer para dar parte do dinheiro para complementar, caso a criança consiga entregar um valor "x".
A educação financeira infantil traz com sutileza um dos problemas mais comuns da vida adulta, que é lidar com as próprias finanças. Com a ajuda dos pais, esse aprendizado pode se tornar um prazer rodeado de conquistas, fazendo do poupar dinheiro, e do controle dos gastos, uma experiência agregadora de conhecimentos e práticas para toda a vida. E tudo isto associado a um maior relacionamento entre pais e filhos.
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